O Cristianismo é uma religião que, no
seu surgimento, absorveu os elementos das culturas circundantes. Tenhamos a
preocupação de ler as missivas do Novo Testamento tendo em vista esta
peculiaridade. Lendo o capítulo 2 do evangelho de São Mateus, vemos como esta
influência, se não bem inteligida, torna pesante o que para nós cristãos é de
fundamental importância para a experiência de fé que desejamos ter com as
celebrações que a liturgia da Igreja nos proporciona para a contemplação do
mistério e o fortalecimento desta fé. Com a leitura do novo volume do papa
Bento XVI, no capítulo 4, podemos ter uma reflexão densa de quem poderia ser
aqueles Reis Magos que “foram ao encontro de Jesus para homenageá-lo” (cf. Mt
2,2). As interpretações dos elementos históricos postos na narrativa não se
tornam anacrônicos porque existe uma preocupação, “cujo significado foi
teologicamente interpretado pela comunidade judaico-cristã”, afirma Joseph
Ratzinger, citando outro grande teólogo, Jean Danielou (Pág. 99). E se observarmos
o capítulo, o Pontífice segue esta perspectiva teológica.
Como a fé toma a sua forma visível
sempre na comunidade cristã, portemos a questão central da presença dos Reis
Magos para a atualidade com as seguintes provocações: Onde estão os novos Reis Magos
que visitam Jesus para homenageá-lo? Quem são eles? Quais são suas motivações?
Por quem são enviados? Parece-me que no novo cenário, visualizar este fenômeno
exige muito mais de nós. Na contemporaneidade muitas pessoas passam por uma
profunda crise de fé (cf. Porta Fidei, 2). Para pensar metaforicamente a
presença dos “novos magos”, temos que realmente pensar, não na autentica
experiência de fé, como a fizeram, Maria e José, e que continua presente de
forma autentica na vida de muitos cristãos, mas sim, no modo como o ser humano
contemporâneo vive uma forma superficial, espiritualizante e até charlatã da
sua relação com o transcendente. Estas expressões são vistas e apresentadas de
diversos modos na cultura Posmoderna, através da literatura, filmes, magia
negra, filosofias, artes e, mais enfaticamente, em tendências religiosas, que
temos que deixar claro, não podem ser confundidas, nem equiparadas, com a
lógica cristã da apocalíptica, como tão bem pensaram e dialogaram sobre, os
grandes Umberto Eco e o Carlo Maria Martini no texto: “Em que crêem os que não
crêem?”.
Os Magos do tempo de Jesus ofereceram
ouro, incenso e mirra. O reconheceram como o Rei (ouro), o Filho de Deus
(incenso) e o mistério da Paixão (mirra), pela qual iria passar. Diferente da
interpretação teológica que foi dada pela comunidade cristã mateana, na
atualidade, devido à tentativa de ofuscamento do Deus revelado em Jesus Cristo,
pensado, estrategicamente, pelas tendências relativistas e agnósticas, que vão
desembocar no niilismo antropológico da modernidade, a impostação é
diferenciada. Sem dúvida, é na instigação e virulência do consumismo que os
novos Magos surgem de modo atualizado. O mercado e as pessoas já não
homenageiam ao Menino Jesus; mas, muito mais, aos deuses pagãos e fantásticos
que alimentam o inconsciente coletivo de mentiras e alucinações. Vejamos que
nestes momentos celebrativos o objetivo, teórico e pragmático, das tendências
mercadológicas são mais fortemente enfatizadas. Os Magos de hoje não são
capazes de mudar o caminho; eles voltam para adorar outros reis.
Por fim, que a nossa vida
cristã, aproveitando este Ano da Fé, possa ser realmente um meio para que neste
tempo extraordinário para apresentarmos ao Menino Jesus nossos melhores dons,
conscientes de que, não somos nós que O oferecemos nada, mas Ele que é o nosso
maior e melhor Presente. Assim o seja!
Pe. Matias Soares, Pároco de São José de Mipibu e Vig. Episc. Sul.
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