As paróquias, desde os
primeiros tempos da Igreja, foram instrumentos de veiculação da ação
evangelizadora. Eram as células que formavam a estrutura visível da Diocese.
Elas vieram a ser a forma visível das experiências comunitárias dos fieis
convertidos e vinculados pela mesma fé e com os mesmos pastores. Elas, as
paróquias, seriam, desde o princípio, as veias da irradiação da ação pastoral e
evangelizadora da igreja, temporalmente instituída e reconhecida como realidade
necessária para a organização visível da maior e mais bem estruturada
instituição do Ocidente.
O Concílio Vaticano II, cujo
cinquentenário estamos a celebrar, nos ofereceu a eclesiologia pastoral para
pensarmos a paróquia como uma realidade mais humanizada e lugar de encontro e
formação da comunidade (Ad. Gentes, 15). O Código de Direito Canônico a
conceitua como “uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente
na Igreja Particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como seu
pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano (Can. 515). A menção da
figura do pároco é sumamente importante para que seja acentuado o nosso
propósito. As constituições canônicas enfatizam quais são as principais
responsabilidades desta figura, como pastor próprio da paróquia, ao tipificar
nos números 528-530 o que deve ser realizado para o bem espiritual dos fiéis
que compõem a paróquia e a sua promoção humana sob a responsabilidade do
pároco. Estes cânones deveriam ser lidos e meditados por todos os presbíteros e
fiéis católicos que estão na circunscrição duma paróquia.
Não podemos deixar de lado
as nossas preocupações com as ações e os novos métodos da ação evangelizadora.
Mas, devido a outros ideais e mentalidades, fruto das revoluções, que
influenciaram fortemente as práticas “pastoralistas” da igreja na modernidade,
foi deixado de lado, na maioria das paróquias, o aspecto humanizante e místico
das originais finalidades da existência das células. O que mais nos impressiona
é que as pessoas estão a buscar em muitas outras formas de viver a fé, o que
não poderíamos ter deixado de oferecer nas paróquias. As pessoas continuam a
esperar que nas paróquias sejam oferecidos os meios para sua santificação e
alimento da sua fé, para o dinamismo da caminhada. Nas paróquias, sem desmerecer,
nem deixar de realizar as várias práticas pastorais, necessitamos retomar a
importância da mística e de práticas fraternas e acolhedoras da comunidade.
Precisamos ser o diferencial das nossas comunidades. Quando cada paróquia
valoriza os membros que a compõem, como centro de tudo o que é celebrado e
realizado por ela, conseguirá realizar o fim para o qual existe, já que neste
momento crítico da nossa história, elas devem ser “células vivas da Igreja e o
lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de
Cristo e a comunhão eclesial” (DAp, 170). Devemos tomar muito cuidado para não
deixarmos, principalmente como responsáveis primeiros pelas ações missionárias
e pastorais, nas e das paróquias, de ficar em segundo plano o que precisamos
fazer para que tenhamos um processo autêntico de Nova Evangelização, que, sem
dúvida, só acontecerá se a pessoa humana for o centro do nosso dinamismo
missionário. Não entremos nos pormenores, mas a V Conferência de Aparecida nos
trouxe orientações fantásticas para a renovação das estruturas paroquiais.
Precisamos ir e beber na fonte das suas conclusões. Muitos e grandiosos
desafios nos são postos nas atuais circunstâncias; contudo, podemos estar
cientes duma questão: ou nos preocupamos com um “Cristianismo de qualidade”,
que una fé e testemunho de todos nós, batizados, ou veremos, com mais
clarividência, o abandono da fé de muitos batizados, que se tornam cada vez
mais indiferentes aos valores da Palavra de Deus. As paróquias continuam a ser
instrumentos valiosíssimos para nossa missão.
Por fim, tenhamos atitudes
mais humanas e de acolhimento em todas as realidades paroquiais, pelo anúncio
da Palavra, celebração dos sacramentos, especialmente os da Eucaristia e da
Penitência, e o fortalecimento da comunhão e da missão permanente. Assim o
seja!
Pe.
Matias Soares
Pároco de São José de Mipibu-RN e Vig. Episcopal
Sul.
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