Existe uma afirmação
universal que embasa este princípio: A pessoa humana é um centro de tudo que
existe. Todas as correntes antropológicas e demais campos do conhecimento
reconhecem a centralidade do humano na criação. Sem este ponto de partida, não
há possibilidade prática e epistemológica de compreensão deste fundamento que é
o diferencial para que a discussão sobre uma ética universal seja elaborada. No
ocidente, o paradigma que mais influenciou na tratativa foi o teológico. Ele
concebe o ser humano como alguém que é criado à imagem e semelhança de Deus
(Cf. Gn 1,27). O dogma semítico já o define como quem tem vontade e inteligência.
A partir da compreensão de quem é Deus, é definido quem é a pessoa humana.
Pelos atributos divinos são afirmados os humanos que concederão à liberdade a
maior característica de dignidade que existe desde a concepção do ser humano. O
cristianismo toma a mesma antropologia. Afirma que Deus cria porque ama. A
dignidade da pessoa é reconhecida quando ela é objeto de amor e sujeito do
amor. Jesus Cristo se revela para restabelecer essa dignidade que decaiu por
causa do mau uso da liberdade. A desobediência ao amor descaracteriza o que lhe
confere dignidade. Vicia sua vontade e obscurece sua inteligência. O que fora
afirmado à luz do que é divino, passa a ser dito sobre o que não é divino. Quem
é o homem para que dele o Senhor se ocupe? Pergunta o salmista (Sl 8,5). Ele é
aquele que tem uma dignidade universal e filial. Esta não é relativa, nem
circunstanciada. Ela é absoluta.
Outra concepção que terá
muita influência é a que afirma que a pessoa é ser individual de natureza
racional. Esta formulação é filosófica. Ela parte do mesmo atributo racional já
existente na teologia. Este é um ponto de encontro transversal. Entra uma
antropologia do corpo que será importante para o sentido da dignidade para a
tendência materialista e também metafísica. Este conceito permitirá
interpretações bipolares, como será constatado no tempo. O corpo garante
individualidade ao ser humano. Sua dignidade não é determinada por uma abertura
à integração, mas por determinação visível e imediata. Não considera a mediação
transcendental e relacional. A partir do Iluminismo a dignidade da pessoa
humana tem sua referência enfatizada pelo fortalecimento do Estado como sujeito
de direitos individuais e coletivos. O modelo político ganha maior importância.
O que é reconhecido é o positivado.
Atualmente, por uma via
relacional, se considera um reconhecimento da dignidade humana pela via do
encontro. Existe uma filosofia do encontro. O outro é reconhecido e tem sua dignidade
percebida pelo face a face, que nos leva à compreensão da dignidade que é revelada.
A verdade sobre o outro não é nem dogmatizada, nem relativizada. Ela acontece quando
o eu se depara com o tu e o nome do outro. Ela se deixa ver totalmente. De modo
que, renegar o outro é não aceitar a minha própria condição humana. Não posso
torná-lo meio, porque eu também não sou meio, mas fim de todas as ações humanas
e de toda a realidade criada. A perspectiva final é a beleza e a totalidade da
vida. Quem reconhece a dignidade do outro, universaliza a primazia da vida e da
irrenunciável dignidade da pessoa humana, desde a sua concepção até a sua morte
natural.
Por fim, a questão sobre a
dignidade da pessoa dependerá da base epistemológica sobre a qual se assenta a
concepção de ser humano que cada um tem. No contemporâneo, isto é notório e não
pode deixar de ser considerado. Contudo, o que permanece é o fato de que quanto
mais conhecemos a verdade sobre o humano, mais valorizamos e aprimoramos a
importância da sua dignidade e quem é o verdadeiro Senhor dela. Assim o seja!
Padre Matias Soares
Pároco de São José de Mipibu/RN
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