domingo, 11 de janeiro de 2015

Liberdades - Por Padre Matias Soares


O Mundo ficou perplexo com os últimos acontecimentos na França, por causa do ataque ao jornal (Le Charlie) e assassinado de jornalistas, cometido por fanáticos adeptos da religião islâmica. Desde já, é importante enfatizar que eles não representam todo o Islã. A motivação principal para os ataques foram os desenhos que, segundo a interpretação dos extremistas, desrespeitavam a figura do profeta Maomé.

No Ocidente, o tema da Liberdade é basilar para a compreensão da vida social e política. Sem a clareza do que ela significa, não se tem base para que sejam pensados os conceitos de justiça, igualdade, respeito, solidariedade e, o mais importante, o sentido da Democracia. Se não existe Liberdade, não existe esta forma de poder. As culturas, grega e hebraica, através da filosofia e da fé, embasaram o que na modernidade foi estruturado sobre o significado da Liberdade. A Revolução Francesa é o marco histórico e referência epistemológica para que compreendamos o seu conceito e como este é usado até os nossos dias. Contudo, as mudanças de época, que geraram esta época de mudanças que estamos vivendo, nos trouxeram perplexidades acerca do valor da Liberdade. Ela é um produto almejado globalmente. Todos querem tê-la e vivê-la. Os Meios de Comunicação, que agora com as Redes Sociais, democratizaram, mesmo que ainda com suas limitações, a possibilidade de manifestação da subjetividade, possibilitaram a sua conquista, mas também afloraram os desafios que a acompanham. A Grande Mídia, é sujeito deste novo tempo, mas também passou a ser objeto.

Atualmente, o fenômeno da abrangência e importância do sagrado, e aqui pensemos todas as formas de religião, passa a ter um sentido não só individual e particular, mas, tanto quanto, público e mundial. O atentado às Torres Gêmeas é um símbolo desta verdade. Do mesmo modo que existe a liberdade de expressão, há também a liberdade religiosa. Uma não pode anular a outra; nem muito menos violentarem-se mutuamente. São Direitos Fundamentais, inclusive reconhecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Quando ainda estava estudando em Roma, nalgumas viagens que fiz ao Norte da Itália e à Inglaterra, observei que já naquele tempo, pelos idos de 2000, existia uma massiva presença de muçulmanos, naquelas paragens. Como já é de conhecimento comum, na França também. Já hoje, e num futuro não tão distante, os países europeus terão um grandíssimo problema para lidar com esta situação religiosa e política. O laicismo europeu é vazio. Eles mataram deus, e o confundiram com uma religião. Renegaram suas raízes e agora estão como árvore velha, tendo o tempo como seu pior inimigo.  

Sem dúvida, as atrocidades terroristas são horrendas e abomináveis. Todos nós as condenamos; e não podemos, em hipótese alguma, alegar qualquer possibilidade de justificativa. Todavia, estes últimos acontecimentos dos Estados Unidos, Europa e, porque não dizer, os daqui do outro lado do Mundo, no tocante ao desrespeito à liberdade religiosa e a tudo que representa sua expressão, também precisam ser analisados e racionalizados. Atenção! A Liberdade não pode perder a Razão. Elas têm que estar casadas e bem integradas. Uma das características da Posmodernidade  é a perda do uso desta racionalidade. Ela acontece no encontro com o Outro. A cultura, a história, os valores e a vida dos Seres Humanos não podem ser violentados, nem com armas, nem com palavras. Umas ofendem ao corpo; as outras denigrem a alma. Temos que pensar muito bem sobre o sentido da Liberdade.

Por fim, que seja mais uma vez enfatizado como abominável e desprezível, qualquer sentimento e prática religiosa que sejam usados para ofender a dignidade dos semelhantes; e ainda, que a liberdade de expressão não seja usada para fundamentar ofensas e ridicularização do que é importante para aqueles que assumem a sua Condição Transcendental e religiosa. Reflitamos sobre tudo isto e viva as Liberdades! Que a Paz possa reinar! Assim o seja!

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