A PREFEITA MICARLA de Sousa está sendo afastada do cargo hoje porque chegaram à conclusão de que os gastos dela não batem com o que consegue obter por meio do seu salário de chefe do Executivo municipal e de sua atividade como empresária (valores não informados ainda). A informação é da própria prefeita, que ontem, após receber a notificação de seu afastamento, recebeu o NOVO JORNAL para fazer algo que até agora ninguém deixou: contar a sua versão da história, o famoso outro lado.
De acordo com a prefeita, não é real que a investigação esteja realmente ligada à operação Assepsia, que apura supostas irregularidades na saúde municipal. A versão apresentada pela jornalista é que o Ministério Público encontrou durante a apreensão da Assepsia documentos referentes às suas finanças pessoais; e a partir daí passou a investigar o caso.
Ela reclama que em nenhum momento houve interesse da instituição em ouví-la ou pedir esclarecimentos antecipados. Pelo contrário: Micarla conta que tentou encontrar o procurador Manoel Onofre Neto após a Assepsia, mas jamais conseguiu falar com ele. A maior queixa da prefeita, entretanto, está mesmo no impedimento de defender-se, o que ela classifica como absurdo.
Micarla de Sousa recebeu o NOVO JORNAL no escritório de sua casa. Parecia abalada, mas ao mesmo tempo não demonstrou perda alguma na boa forma de falar, característica adquirida com os anos de apresentação na TV. Pouco maquiada, usando um colar adornado com um pingente de três círculos, sem se exaltar ou demonstrar descontrole, ela aposta que a justiça de Deus prevalecerá sobre a dos homens.
E que, após apresentar sua defesa, restará uma Micarla inocente que merecerá manchetes proporcionais às que estão hoje em todas as bancas de jornais. A seu favor, ela dá um primeiro passo: assegura que é favorável ao levantamento do sigilo no processo que pede seu afastamento. E diz que tem como provar ponto por ponto que o Ministério Público está errado.
Abaixo, Micarla fala…
A SENHORA ESTÁ SENDO ACUSADA DE QUÊ?
Eu estou ainda no aguardo de um posicionamento dos meus advogados que hoje deram entrada com um pedido para terem acesso a toda a peça que o Ministério Público enviou justiça do Rio Grande do Norte. Mas recebi há pouco o relatório dando o parecer do desembargador Amaury Moura. Lá constam algumas citações envolvendo meu nome e me colocando como partícipe de atos delituosos. Infelizmente, eu não tive qualquer direito à ampla defesa, que é uma das… Que é algo colocado pela própria Constituição. Eu não tive nenhum direito a qualquer defesa para poder me pronunciar acerca desses fatos. Essa questão de não ter sido me dado direito de fazer a defesa, fez com que o juiz tivesse acesso a apenas um lado da história. Mas a defesa será apresentada, o que vai acontecer nos próximos dias. E certamente a população de Natal e do Rio Grande do Norte e a justiça vão identificar que as coisas não aconteceram da forma como foi colocada pelo Ministério Público.
A ACUSAÇÃO TEM A VER COM AS SUPOSTAS IRREGULARIDADES ENUNCIADAS NA OPERAÇÃO ASSEPSIA, COMO FOI ANUNCIADO?
Não, não tem a ver. Não tem conexão com a operação Assepsia, no contexto geral dessa operação. Até porque as pessoas já foram denunciadas. Envolve alguns documentos que foram encontrados durante a apreensão da operação Assepsia.
A SENHORA CONSIDERA UM ABUSO OU UM ABSURDO A FORMA COMO ISSO FOI APRESENTADO NA TV E O MODO COMO ESSE AFASTAMENTO ESTÁ SENDO DADO AGORA SEM QUE POSSA SE DEFENDER?
Eu acho absurdo é uma palavra pequena para exprimir o que eu estou sentindo e o que a minha família está passando. Eu sou um ser humano, sou uma mulher, tenho dois filhos pequenos, tenho irmãs, tenho mãe, tenho pessoas que estão sofrendo junto comigo. Acho que era importante que se tivesse mais cuidado na hora de acusar. Na história de Natal, aconteceu o mesmo com um prefeito eleito pelo povo, com Agnelo Alves, em 1969. Mas isso aconteceu no período da Ditadura, num período de exceção. Não no período democrático. Na época o general Duque Estrada, por conta de uma nota divulgada pelo então prefeito referente a futebol — não tinha nenhuma relação com o Governo — o general entendeu que aquela nota era um atentado à segurança nacional. E terminou por tirar o prefeito Agnelo Alves sem que ele tivesse direito a defesa. Nesse caso, aconteceu algo semelhante, porque eu fui votada por 193 mil natalenses, o meu mandato termina em 60 dias e eu não tive nenhum direito de me pronunciar ou apresentar qualquer tipo de defesa. Eu fui julgada, culpada e condenada numa só ação sem que tivesse qualquer tipo de direito à minha defesa. Quando a gente pensa assim: puxa, isso aconteceu num período de ditadura, onde se tirou um prefeito, ainda há de se entender porque no período de ditadura ninguém tem direito à defesa. Mas num período de democracia ampla, geral e irrestrita é muito complicado. Me surpreendi bastante com a declaração dada pelo procurador geral de Justiça (Manoel Onofre Neto), que o meu afastamento tornaria mais tranquila essa fase da transição. Ora, na segunda-feira, após a eleição, eu chamei todos os secretários e já indiquei a equipe de transição e o local da transição. Então, em momento algum obstaculei em hora nenhuma a questão da transição. Esse não é argumento suficientemente forte para usar num momento como este. Eu acredito muito em Deus. Eu creio muito na Justiça dos homens, mas creio mais na justiça de Deus. E tenho certeza que mais dia menos dia a população de Natal, do Rio Grande do Norte, vai ver o que é que está exatamente por trás de tudo isso que foi feito comigo. Mais dia menos dia nós vamos conhecer todos os atores de todo esse processo que culminou no meu afastamento.
A SENHORA ACHA QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTÁ SENDO USADO POLITICAMENTE?
Eu prefiro não comentar esse assunto.
A SENHORA PRETENDE AJUIZAR AÇÃO CONTRA OS QUE ESTÃO MOVENDO ESSE PROCESSO CONTRA A SENHORA?
Olha, eu acho isso muito perigoso isso que aconteceu comigo. Muito perigoso. Primeiro que isso faz com que se abra um flanco imenso. Hoje isso aconteceu comigo. Amanhã, com quem será? Quem será a próxima vítima? Quando uma política como eu, sem sobrenomes políticos tradicionais, sem estruturas poderosas, se propôs a não ser tutelada por ninguém, eu assumi um risco: de que poderia haver uma perseguição. Mas eu jamais imaginei, nem no meu maior pesadelo, que a perseguição pudesse chegar a uma medida como essa a que chegou. Mas eu estou à disposição da Justiça. E creio, mas creio muito que a Justiça há de ser feita. E que eu, em breve, estarei podendo sentar na cadeira que o povo me outorgou.
FONTE: NOVO JORNAL
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