Os 12
torcedores corintianos presos na penitenciária San Pedro, em Oruro, na Bolívia,
não foram torturados, mas correm risco de atos de violência dos presos
bolivianos. Além disso, a questão virou um problema diplomático entre Brasil e
Bolívia. Essas foram as principais conclusões tiradas por integrantes da
Comissão de Relações Exteriores do Senado e diplomatas brasileiros que foram
até o interior da Bolívia, nesta terça-feira, para avaliar a situação dos
corintianos que estão presos desde o dia 21 de fevereiro, acusados de
envolvimento na morte do torcedor Kevin Espada, atingido por um sinalizador na
partida entre San Jose e Corinthians, pela Libertadores. Já são 34 dias de
cárcere.
"Conversei
com cada um dos 12 presos abertamente, de maneira objetiva, e eles disseram que
não houve tortura. O problema é eles têm medo de se misturarem com os outros
presos, estupradores, assassinos e traficantes", afirmou o senador Ricardo
Ferraço (PMDB-ES), presidente da comissão, que esteve em Oruro. "O governo
brasileiro precisa subir o tom e encarar essa questão como um problema
diplomático. Caso contrário, eles vão ficar aqui (Oruro) para sempre",
disse o parlamentar.
A próxima
providência da comissão, em conjunto com a Embaixada do Brasil em La Paz, será
agendar uma reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ainda
nesta semana para decidir as medidas que o governo brasileiro pode tomar para
agilizar o andamento do processo. Desse encontro deve participar também o
presidente do Corinthians, Mario Gobbi. A assessoria do clube confirmou que, no
próximo dia 2, Gobbi se reunirá com Antônio Patriota, ministro das Relações
Exteriores.
Hoje, os 12
corintianos estão separados dos demais presos. Eles estão divididos em duas
celas de uma ala reservada com outros 40 detentos. O maior problema são as
condições de higiene. A ala possui um único banheiro, sem chuveiro e privada
(há apenas um buraco no chão).
De fora da
cadeia, os brasileiros recebem comida e água com frequência e têm aparelhos de
som. Por causa do uso de celulares, seis deles foram punidos no início do mês e
passaram três dias no calabouço - celas apertadas, sem banheiro e iluminação.
Voltar ao
calabouço, inclusive, é o maior temor dos corintianos. "Tem preso
boliviano que usa droga na cadeia. Meu sobrinho me disse que se eles saírem da
ala reservada e ficarem misturados, esse pessoal pode querer roubar as coisas
deles, arrumar confusão. Se os brasileiros revidarem, vão para o
calabouço", contou Marisa, tia de Hugo Nonato, um dos 12 presos.
DEFESA - A fim
de tentar agilizar o processo, os familiares dos torcedores decidiram contratar
um escritório especializado em direito internacional e a advogada Maristela
Basso assumiu o caso. O grupo tomou a iniciativa porque desde que o pedido de
liberdade condicional foi negado, no último dia 12, os avanços na defesa não
foram significativos.
Parte do
problema é a burocracia. O Ministério Público de São Paulo atendeu às
solicitações da Justiça boliviana e encaminhou as fichas de antecedentes
criminais dos torcedores presos e uma cópia do vídeo da entrevista que
identifica o autor do disparo - um jovem de 17 anos, sócio da Gaviões da Fiel,
confessou o crime ao Fantástico, da Rede Globo, e se apresentou à Justiça.
"Só
estamos esperando as autoridades bolivianas assinarem os documentos. Trata-se
de uma etapa burocrática, mas que concretiza o acordo de cooperação entre os
dois países", disse Thales Cézar de Oliveira, promotor responsável pelo
caso. A Justiça brasileira também aguarda uma cópia do processo boliviano. "Não
temos nenhuma prova aqui", argumentou Thales.
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