O que determina a identidade
cristã é a fé em Jesus Cristo. Não existe cristão sem a adesão à pessoa do
Filho de Deus. Não há quem pense em ser cristão que possa fugir desta
prerrogativa. Ela determina a existência cristã, que consiste na relação subjetiva
e objetiva da pessoa com o Senhor. É uma comunhão integrante e integradora da pessoa. Não há bipolaridade. Não há
contradição. A base é o coração que ama para poder permanecer em Deus (1Jo
4,8.16). Por isso que o cristão não é quem revoluciona de fora para dentro, mas
que se converte de dentro para fora. Nos falta a retomada desta convicção.
Precisamos desta clareza de ideia, da retomada ao essencial do que é próprio do
cristianismo.
O apóstolo Paulo afirma aos
irmãos de Corinto que “quando era criança, falava como criança, pensava como
criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que
era próprio de criança” (Cf. 1Cor 13,11). O cristão autenticado pela conversão
a Cristo, não tem uma fé infantilizada. Isto não exclui o processo dialético e
permanente da chamada de Jesus à mudança. Convertei-vos e crede no evangelho!
(Cf. Mc 1,15). Mas vejamos que não existe conversão sem fé e fé sem conversão.
Historicamente este conteúdo foi sendo perdido. Como a subjetividade, a fé da
pessoa é dinâmica, porém exige o conteúdo transformador, porque está alicerçada
na pessoa de Jesus Cristo. Talvez que, mais pela reviravolta antropológica da
modernidade, do que pela própria realidade eclesial, estejamos sentindo a
necessidade de retomar o caminho para a verdade.
A Igreja correu para o
periférico e deixou o essencial. Essa preocupação não é estratégica, mas real e
universal. Não é o geográfico, mas é o eterno que deve ser valorizado. O evangelista João é quem melhor nos
apresenta, na sua teologia, como acontece esta interação no coração humano, sem
esquecer da cristologia total do Novo Testamento, a qual contempla o Jesus pré e
pós-pascal. Diante disto, precisamos
aprofundar a nossa espiritualidade cristã! Ela fugiu de Cristo e nos aprisionou
num infantilismo da fé. Percebemos esta forma eclesial confusa da fé em algumas
comunidades, que mesmo sem o saberem, estão nesta teia imatura da vida cristã.
O Papa Francisco está muito ciente deste problema teológico, que, infelizmente,
tornou-se um dilema eclesial. Por isso, que há uma constatação ferrenha,
principalmente na evangelização da América Latina, de que existiu muita
sacramentalização e pouca evangelização desde os primórdios. A intenção não é
entrar numa lógica pessimista. O intento é provocar para que pensemos o que
significa o “ser e existir” cristão. Temos que encarar a questão para
avançarmos na mística cristã e, consequentemente, eclesial. A sacralidade eclesial,
na pós-modernidade, dependerá deste enfrentamento. Não é do bem contra o mal,
mas da espiritualidade cristã encarnada na vida dos cristãos que serão sal da
terra e luz do Mundo (Cf. Mt 5,13-14).
Vejamos que, historicamente,
a vida da Igreja sempre dependeu do testemunho dos santos e mártires. Estes
fizeram sempre a opção fundamental pela pessoa de Jesus Cristo. Os cristãos não
podem perder o encantamento pela santidade. Tenhamos cuidado com a armadilha do
relativismo, ou dizer dela o que não é! O Papa Francisco está constantemente a
nos falar dum “mundanismo espiritual”, o qual nos distancia do enamoramento de
Deus. Existe um problema na espiritualidade cristã que precisa ser sanado,
presente em muitos agrupamentos eclesiais. As estruturas são necessárias para
facilitar o anúncio do evangelho, mas, por causa do seu mau uso e motivações da
condição humana que é pecadora, sufocam em tantas situações o encontro com a
pessoa do Divino Mestre.
Por fim, a experiência
mística do apóstolo Paulo, dos santos e mártires, é muito importante para que,
nós cristão, saiamos do nosso infantilismo da fé e espiritual. Vamos
redescobrir, juntos e eclesialmente, o que significa o “ser e existir cristão”.
Estejamos preparados para o que é de Jesus Cristo e suas implicações, que cada
um é chamado a descobrir através do contato com a Sua Palavra, a beleza da
nossa fé, e fazendo do nosso testemunho a alegria do coração daqueles que não
creem. Assim o seja!
Pe.
Matias Soares
Pároco
de São José de Mipibu-RN
Vigário
Episcopal Sul da Arquidiocese de Natal
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